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Família: Myrtaceae
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Gênero: Corymbia
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Subgênero: Corymbia
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Espécie: Corymbia torelliana (F.Muell.) K.D.Hill & L.A.S.Johnson
Área de origem e clima
O Corymbia torelliana ocorre naturalmente na região costeira do nordeste da Austrália, no estado de Queensland, entre as latitudes 16ºS e 19ºS, nas proximidades de Atherton, Ingham e Port Douglas (Figura 1); geralmente em altitudes que variam de 30 m a 750 m, com temperaturas médias nos meses mais quentes entre 29ºC e 31ºC e nos meses mais frios entre 12ºC e 15ºC (Boland et al., 2006). A pluviosidade média anual é de 2000 mm, com chuvas mais abundantes no verão (Reis et al., 2014). Segundo Boland et al. (2006), o local de ocorrência registra geadas pouco frequentes, entretanto tem-se notado boa tolerância ao frio. O C. torelliana é encontrado em encostas de serras em solos formados por rochas arenosas e metamórficas. Os solos são férteis, de textura média com boa drenagem, e elevada capacidade de retenção de água (Boland et al., 2006).
Descrição botânica
De acordo com Lorenzi et al. (2003) e Boland et al. (2006), a espécie (Figura 2) em questão apresenta as seguintes características morfológicas:
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Casca: persistente, escamosa, de cor cinza a pardo-escura, lisa e verde na região superior do tronco e dos ramos (Figura 3 e Figura 4).
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Folhas juvenis: alternas, sem aroma típico, largo-ovaladas ou ovalado-lanceoladas, muitas vezes peltadas e hirsuto-pubescentes, comprimento de 10 cm a 17 cm e largura de 5 cm a 8 cm, com pecíolo de cerca de 2 cm (Figura 5).
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Folhas adultas: alternas, ovaladas, verde-escuras na face superior, com 12 cm a 19 cm de comprimento (Figura 5).
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Inflorescências: umbelas terminais dispostas em panícula com pedicelos hirsuto-pubescentes. Os botões florais apresentam formato ovóide, com ápice cônico e curto; e as flores são branca-róseas, sendo vistosas e numerosas (Figura 6 e Figura 7). A floração pode ocorrer durante todo o ano, mas é abundante durante o verão (Hodel, 2012).
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Frutos: : ovoide-esféricos, sendo acinzentados, lenhosos, deiscentes, com valvas inclusas e 0,9-1,4 x 0,9-1,4 cm de dimensão (Figura 8).
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Sementes: elípticas, não aladas, marrom-avermelhadas e com hilo ventral. Contém aproximadamente 530 mil sementes/kg (quilograma de sementes inteiras e puras, isto é, sem resíduos) (Bisht e Ahlawat, 1999).
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Madeira: cerne com coloração que varia de castanho-claro a marrom (Figura 9 e Figura 10), com densidade básica aos 15 anos de 597 kg/m³ (Segura, 2015).
Usos potenciais
A madeira de C. torelliana pode ser usada para confecção de dormentes e postes, produção de carvão e matéria prima para serraria (Golfari et al., 1978). Conti Júnior et al. (2008) avaliaram os índices de encurvamento e rachadura em árvores de E. grandis, E. saligna, C. citriodora e C. torelliana entre 17 e 23 anos de idade. Todas as espécies obtiveram índices de encurvamento abaixo de 10 mm. O C. torelliana apresentou as menores rachaduras dentre as espécies estudadas, em média 7 cm em cada face da tábua.
Há relatos do uso da espécie em consórcio com a cultura do milho (Moniz, 1987); do uso como quebra-ventos (Tamang et al., 2011); e do uso em bordadura de fragmentos florestais para atenuação do efeito de borda (Deliberali e Seixas, 2010).
C. torelliana pode ainda ser utilizada como ornamento paisagístico, devido à copa e tronco de características marcantes (Lorenzi et al., 2003). A casca e extratos da folha também têm sido utilizados na Nigéria como produtos medicinais para tratamento de feridas e úlceras (Adeniyi et al., 2006). Segundo Lawal et al. (2012), o tratamento com folha e casca de C. torelliana foi eficiente no combate a tosses associadas à tuberculose e outras infecções respiratórias.
Silvicultura
C. torelliana é ainda pouco cultivada no Brasil (Lorenzi et al., 2003). Para Reis et al. (2014), a formação de copa esgalhada e baixo crescimento em altura não tem estimulado seu plantio como espécie pura.
Higa e Sturion (1991) estudaram a capacidade e rapidez de crescimento de brotações em 13 espécies de eucalipto no município de Uberaba-SP, em que C. torelliana não obteve resultados satisfatórios: 4 meses após o corte da floresta (possuía 10,5 anos de idade) foram observadas brotações em apenas 52% das cepas e altura média de brotos igual a 10 cm, para cepas com diâmetro médio de 18,8 cm.
Uma característica peculiar de C. torelliana são as protuberâncias e saliências encontradas no fuste, as quais são resultantes de cicatrizes de galhos grossos (Figura 11). Esse aspecto é observado, pois a espécie paralisa seu crescimento durante o florescimento, ocorrendo o engrossamento dos galhos (Reis et al., 2014). Portanto, em plantios destinados à serraria deve-se considerar a possibilidade de realizar a desrama no intuito de melhorar a qualidade do fuste (Pulronik et al., 2009). A Figura 12 mostra um plantio regular de C. torelliana aos 12 anos de idade em Piracicaba-SP com fuste reto e poucas bifurcações.
Em comparação com o E. grandis e E. camaldulensis, o C. torelliana é a espécie que tem a maior capacidade de interceptação de radiação solar, deixando assim o sub-bosque com menor luminosidade (Schumacher e Poggiani, 1993). Por esse motivo, o sub-bosque de povoamentos com esta espécie é caracterizado por ser pouco desenvolvido (Schumacher, 1992). Segundo Reis et al. (2014), a elevada interceptação pela copa faz do C. torelliana uma espécie potencial para recuperação de áreas degradadas, pelo fato de reduzir a incidência de gramíneas invasoras no período de colonização. Deliberali e Seixas (2010) estudaram o efeito de uma aleia simples de C. torelliana sobre o microclima na bordadura de um fragmento florestal em Campinas-SP. Os resultados indicaram que o microclima se tornou mais ameno; em que as variáveis de velocidade do vento, temperatura do ar e temperatura do solo diminuíram, enquanto que a umidade relativa do ar aumentou, quando comparados aos trechos sem a presença da aleia.
Em relação ao crescimento e produtividade, o projeto TUME possui dados da espécie em diferentes regiões do país, e em diversas condições climáticas. No município de Itatinga-SP (latitude 23º06'S; longitude 48º37’O; altitude 845 m), que possui temperatura média anual de 19°C, precipitação média anual de 1300 mm, o C. torelliana aos 70 meses de idade apresentou volume de 42 m³/ha, que corresponde ao Incremento Médio Anual (IMA) de 7,2 m³/ha.ano. No município de São Manuel-SP (22º43'S; 48º34'O; 709 m), com condições climáticas semelhantes à de Itatinga-SP, a espécie atingiu o volume de 67 m³/ha e um IMA de 11,5 m³/ha.ano, também aos 70 meses de idade (TUME, 2016)
Em Chapadão do Sul-MS (18º48’S; 52º37’O; 905 m), com uma temperatura média anual de 23°C e precipitação anual de 1600 mm, o C. torelliana aos 48 meses de idade, atingiu volume de 94 m³/ha e IMA de 23,5 m³/ha.ano. Em Mandaguari-PR (23°32'S; 51°40'O; 740 m), em um clima diferente de Chapadão do Sul, com temperatura média anual de 19°C e precipitação anual de 1300 mm, o C. torelliana atingiu o volume de 94 m³/ha e um IMA de 24 m³/ha.ano aos 47 meses de idade.
Para Assis (2014) a utilização de híbridos de C. torelliana x C. citriodora é uma alternativa para superar dificuldades da silvicultura relacionadas às quebras por vento; danos causados por pragas e doenças; e seca de ponteiro devido ao déficit hídrico. O mesmo autor ressalta que esses híbridos, denominados informalmente de ‘torelliodora’, tem potencial de IMA no sétimo ano acima de 40 m³/ha.ano e ao mesmo tempo densidade básica da madeira maior que 600 kg/m³. Com relação à produção de mudas por propagação vegetativa de híbridos de C. torelliana x C. citriodora, Wendling et al. (2014) observaram enraizamento entre 61 e 68% das estacas e consideram viável a produção de mudas com esse hibrido em larga escala.
Suscetibilidade a pragas e doenças
Foi registrado o ataque de Costalimaita lurida em povoamentos de C. torelliana aos 12 meses de idade, no norte de Minas Gerais (Arnhold e Gonçalves, 2010). Sucessivas desfolhas podem causar desequilíbrios nos processos fisiológicos da planta, reduzir seu crescimento e até mesmo ocasionar a morte do indivíduo (Freitas, 1998). Já em viveiros, as mudas podem sofrer ataques de Oidium eucalypti (Alfenas et al., 2004).
Por outro lado, estudos têm mostrado que o C. torelliana tem boa resistência à ferrugem (Puccinia psidii) e ao cancro (Cryphonectria cubensis) (Abad et al., 2013); e resistência moderada à doença abiótica conhecida como gomose (Alfenas et al., 2004).
Segundo Oliveira (1987), a espécie também se mostrou tolerante à seca do ponteiro do eucalipto no Vale do Rio Doce (Minas Gerais) e posteriormente Abad et al. (2013) verificaram que clones de C. torelliana x C. citriodora não apresentaram o distúrbio fisiológico no sul da Bahia, como foi registrado em clones de E. grandis x E. urophylla.
Quanto à madeira de C. torelliana, Gonçalves et al. (2013) verificaram ausência de efeitos significativos no ataque de cupins de madeira seca, tornando a espécie indicada para fabricação de móveis estruturados.
Figuras
Figura 1. Área de origem do C. torelliana na Austrália (fonte: adaptado de Reis et al., 2014).
Figura 3. Fuste de C. torelliana, na área de origem (fonte: Central Qld Landcare Network).
Figura 5. Folhas juvenis e adultas de C. torelliana (fonte: Brisbane City Council).
Figura 7. Inflorescências de C. torelliana (fonte: Top Tropicals).
Figura 2. Árvore adulta de C. torelliana em ambiente urbano (fonte: Atlas of Living Australia).
Figura 4. Casca de C. torelliana (fonte: Brisbane City Council).
Figura 6. Botões florais de C. torelliana em estádio avançado de amadurecimento (fonte: Encyclopedia of Life).
Figura 8. Ilustração do fruto de C. torelliana (fonte: Australian Tropical Rainforest Plants).
Figura 9. Corte transversal de tora de madeira de C. torelliana, com destaque para a diferenciação entre cerne e alburno (fonte: Reis et al., 2014).
Figura 11. Cicatrizes ocasionadas por galhos grossos em árvore de C. torelliana (fonte: Reis et al., 2014).
Figura 10. Corte tangencial de tora de C. torelliana.
Figura 12. Plantio de C. torelliana aos 12 anos de idade em Piracicaba-SP.
Referências
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Escrito por: Ítalo Ramos Cegatta (Abril/2016).