-
Família: Myrtaceae
-
Gênero: Eucalyptus
-
Subgênero: Symphyomyrtus
-
Espécie: Eucalyptus saligna Smith
Área de origem e clima
O Eucalyptus saligna ocorre naturalmente na Austrália, sendo que sua principal área de ocorrência situa-se numa faixa de 120 km ao longo da costa, estendendo-se desde New South Wales até o sul de Queensland. Além disso, encontra-se também de forma dispersa e isolada no leste de Queensland (Figura 1). A latitude em seus locais de origem varia de 21 a 36°S e a altitude varia entre o nível do mar até cerca de 1100 m. O clima é temperado ao sul e subtropical ao norte e a espécie se desenvolve melhor em neossolos flúvicos (solos aluviais) de boa qualidade, do tipo areno-siltoso. Outros solos são os argissolos (solos podzólicos) e os de origem vulcânica. De forma geral, os solos da área de origem possuem boa capacidade de retenção de água, porém são bem drenados (Boland et al., 1984).
Segundo Jovanovic e Booth (2002), as exigências climáticas para E. saligna com base na região de ocorrência natural e a partir de observações em diversos países estão delimitadas por precipitação média anual entre 700 a 2300 mm, temperatura média das máximas entre 23 e 34°C, temperatura média das mínimas entre -1°C e 17°C e temperatura média anual de 10°C a 22°C, com um período de até 6 meses sem chuvas.
É indicado para locais com até oito geadas anuais (FAO, 1981), sendo este parâmetro estendido até 50 geadas quando se utilizam fontes de sementes de procedências da região meridional de ocorrência na Austrália, como Yarboro State Forest, em New South Wales. Em um estudo feito por Arnold et al. (2004), o E. saligna exibiu boa tolerância ao frio na China, pois a temperatura mínima que a espécie suportou foi de 10°C. No entanto, vale ressaltar a ampla e significativa variação entre as procedências geográficas.
Descrição botânica
O E. saligna é considerado uma espécie perenifólia (Figura 2), de 20 a 30 metros de altura, com a seguintes características (Lorenzi et al., 2003):
-
Casca: lisa descamante, algumas vezes persistente na base, de cor acinzentada ou branco-azulada (Figura 3).
-
Folhas: simples, lanceoladas ou largo-lanceoladas de ápice alongado, coriáceas, com leve odor de cineol, verdes, muito mais claras na face de baixo, com numerosas glândulas de óleo essencial e nervura principal amarelada e bastante destacada, de 10-20 cm de comprimento, com pecíolo arroxeado ou amarelado de 1,5 a 3,0 cm (Figura 4). As folhas contém 1% de óleo essencial.
-
Inflorescência: umbelas axilares, sobre pedúnculo comprimido de cerca de 1 cm, com 4-13 flores, quase sésseis, com botões de opérculo cônico do mesmo comprimento do tubo, estames numerosos, brancos, longos, formadas de setembro a novembro (Figura 5).
-
Frutos: cápsula, lenhoso, cônico, deiscente, de 5-8 mm de diâmetro, com 3-5 valvas exertas (salientes), contendo sementes diminutas, escuras e angulosas.
-
Madeira: vermelho-clara, com densidade de 690 kg/m³, de boa qualidade, utilizada para diversos fins (Figura 6). O cerne é considerado de moderada a baixa resistência aos organismos xilófagos. A madeira é fácil de ser desdobrada quando utilizados os métodos adequados e fácil de ser trabalhada em operações de usinagem, além de apresentar bom acabamento. Entretanto, a secagem é classificada como rápida, com a ocorrência de rachaduras e empenamentos (IPT, 1989).
Usos potenciais
A madeira de plantios não manejados é apropriada para fins energéticos, mas pode ter outros usos em geral (Paludzyszyn Filho et al., 2006), sendo utilizada para estruturas como postes, moirões e dormentes, painéis à base de fibra, além de tacos, móveis e laminados (Alzate, 2004; IPT, 1989). Além disso, também possui pólen razoavelmente abundante e muito néctar, sendo considerada uma espécie potencial para a produção de mel (Penfold e Willis, 1961).
Silvicultura
Sementes de E. saligna são facilmente encontradas no mercado, sob diversos graus de melhoramento e apresentam tamanho médio, com aproximadamente 460 mil sementes por quilograma. As mudas também podem ser formadas por propagação vegetativa (clonagem), uma vez que a capacidade de rebrota das cepas e de enraizamento são de modo geral altas, porém, sempre dependentes da capacidade intrínseca do genótipo para esse método de multiplicação (Paludzyszyn Filho et al., 2006).
Segundo Londero (2011), em estudo avaliando a produtividade de povoamentos clonais de E. saligna na região de Guaíba-RS, os plantios com idade de 3 anos apresentaram DAP médio de 14 cm, altura de 16,7 m e volume de 134 m³/ha (44,6 m³/ha.ano), enquanto que, aos 7 anos, apresentaram DAP de 20,6 cm, altura de 28,4 m e um volume estimado de 432 m³/ha (61,7 m³/ha.ano).
Suscetibilidade a pragas e doenças
Segundo Auer e Santos (2009), o E. saligna é suscetível ao ataque de oídio causado pelo fungo Oidium eucalypti e à podridão de cerne, causada pela associação de vários grupos de fungos decompositores da madeira. Também é acometido por manchas foliares causadas por Mycospharella spp. e Teratosphaeria spp. (Mashio et al., 1996; Pérez et al., 2006).
Figuras
Figura 1. Área de origem do E. saligna na Austrália (fonte: Australia's Virtual Herbarium 2016).
Figura 3. Casca de E. saligna (fonte: Lorenzi et al., 2003).
Figura 5. Inflorescências e botões de E. saligna (fonte: Atlas of Living Australia).
Figura 2. Árvore adulta de E. saligna (fonte: Atlas of Living Australia).
Figura 4. Folhas de E. saligna (fonte: Australia's Virtual Herbarium, 2016).
Figura 6. Face tangencial da madeira de E. saligna (fonte: Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT).
Referências
Alzate, S.B.A. Caracterização da madeira de árvores de clones de Eucalyptus grandis, E. saligna e E. grandis x E. urophylla. 2004.133 f. Tese (Doutorado em Tecnologia de Produtos Florestais) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba.
Arnold, R.J.; Clarke, B.; Luo, J. Trials of cold-tolerant eucalypt species in cooler regions of South Central China. Canberra: ACIAR, 2004. 106 p. (ACIAR Technical reports, 57).
Atlas of Living Australia. Eucalyptus saligna Sm. – Blue gum. Acesso em: 10/02/2016. Disponível em: link.
Auer, C.G.; Santos, A.F. Principais doenças em espécies de eucalipto utilizadas para a produção de energia na Região Sul do Brasil. In: Congresso Brasileiro sobre Florestas Energéticas, 1, 2009, Belo Horizonte. Anais. Colombo: Embrapa Florestas, 2009. (Embrapa Florestas, documentos 178).
Australia's Virtual Herbarium 2016. Eucalyptus saligna. Acesso em: 05/01/2016. Disponível em: link.
Boland, D.J.; Brooker, M.I.H.; Chippendale, G.M.; Hall, N.; Hyland, B.P.M.; Johnston, R.D.; Kleinig, D.A.; Turner, J.D. Forest trees of Australia. Melbourne: Nelson: CSIRO, 1984. 687 p.
FAO. El eucalipto en la repoblacion forestal. Roma, 1981. 723 p.
Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT. Sistema de Informações de Madeiras Brasileiras. São Paulo: IPT, 1989b. 291p. (Relatório nº 27 078).
Jovanovic, T.; Booth, T. Improved species climatic profiles: a report for the RIRDC/L&W Australia/FWPRDC/MDBC Joint Venture Agroforestry Program. 2002. (RIRDC Publication, n. 02/095).
Londero, E.K. Calibração do modelo 3-PG para Eucalyptus saligna Smith na região de Guaíba, RS. 2011. 68 f. Dissertação de Mestrado - Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, Rio Grande do Sul. 2011.
Lorenzi, H.; Souza, H.M.; Torres, M.A.V.; Bacher, L.B. Árvores exóticas no Brasil: madeireiras, ornamentais e aromáticas. Nova Odessa: Inst. Plantarum, 2003. 384 p.
Mashio, L.M.A.; Auer, C.G.; Grigoletti, J.A. Fungos associados a Eucalyptus spp. no Paraná e em Santa Catarina. Colombo: Embrapa – CNPF, 1996. 3 p. (Embrapa – CNPF. Pesquisa em andamento, 5).
Paludzyszyn Filho, E; Santos, P.E.T.; Ferreira, C.A. Eucaliptos Indicados para Plantio no Estado do Paraná. Colombo, 2006. 45 p. (Embrapa Florestas. Documentos, 129).
Penfold, A.R.; Willis, J.L. The Eucalypts: Botany, Cultivation, Chemistry, and Utilization. First Edition. London: World Crops Books, 1961. 552 p.
Pérez, G.; Slipper, B.; Wingfield B.D.; Finkenauer, E.; Wingfield, M.J. Mycosphaerella leaf disease (MLD) outbreak on Eucalyptus globulus in Brazil caused by Teratosphaeria (Mycosphaerella) nubliosa. Phytopathologia Mediterranea, Roma, v. 48, n. 2, p. 302 – 306, 2009.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Escrito por: Jenifer Sadame Miyagawa (Fevereiro/2016).