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Família: Myrtaceae
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Gênero: Eucalyptus
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Subgênero: Symphiomyrtus
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Espécie: Eucalyptus botryoides Smith
Área de origem e clima
De acordo com Blakely (1955), o Eucalyptus botryoides, popularmente conhecido na Austrália como Bangalay ou Southern Mahogany, é uma espécie de porte médio a alto, encontrada em planícies costeiras e algumas regiões de vales no interior do continente. Em boas condições pode atingir de 30 a 40 metros de altura (Figura 1). Ocorre naturalmente no litoral sul do estado de New South Wales, da cidade de New Castle até a entrada do lago Victória, litoral sudeste da Austrália, entre as latitudes de 32°S a 39,5°S, em altitudes de 0 a 300 m (Figura 2). Nessas regiões a precipitação pluviométrica anual varia entre 625 e 1000 mm, com chuvas uniformemente distribuídas durante o ano. A temperatura média das máximas do mês mais quente varia entre 23°C e 28ºC e a média das mínimas do mês mais frio entre 2°C e 9ºC.
Segundo Boland et al. (2006), o E. botryoides é encontrado em solos pobres, arenosos e salinos, porém possui bom desenvolvimento em solos de boa qualidade e pouco salinos, típico de vales. Pode também se desenvolver em pântanos. Por ser típico de regiões litorâneas e vales possui boa resistência a ventos salinos e geadas. Também tem bom desenvolvimento em condições de estresse hídrico (Blakely, 1955).
Existem ainda duas variedades dentro da espécie, o E. botryoides var. platycarpa Blakely e o E. botryoides var. ienei Blakely. Elas possuem algumas características que as diferem como, por exemplo, frutos, densidade da madeira, além de possuírem localizações e condições muito restritas (Blakely, 1955).
Descrição botânica
Segundo Boland et al. (2006), a espécie possui as seguintes características morfológicas:
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Casca: subfibrosa, persistente nos ramos maiores, possui fissuras longitudinais, coloração marrom ou marrom avermelhado (Figura 3).
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Folhas: Plântulas - opostas no início do ramo, em seguida alternas, 5-6 pares com 4,5-11 x 1,3-5,5 cm de dimensão; Jovens - alternas, pecioladas, formato oval, com 9-15 x 4-8,5 cm com as faces de diferentes cores; Adultas - alternas, pecioladas, com 10-14 x 3-6 cm de dimensão, lanceoladas acuminadas, com coloração verde escura contrastando-se entre as faces (Figura 4).
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Inflorescência: branca, na forma de raques com pedúnculos achatados, de 7-10 mm de comprimento (Figura 5). Seus botões são sésseis (caliptra), levemente angulares com 10-12 x 5-6 mm (Figura 6). Possui múltiplas anteras, vistosas, para atração dos polinizadores, além da presença de disco nectarífero. Seu opérculo é hemisférico, obtuso ou apiculado (Blakely, 1955).
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Frutos: lenhosos, possuem forma de barril, são sésseis, de 7-9 x 7-9 mm de dimensão (Figura 7) (Penfold e Willis, 1961).
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Madeira: cerne com coloração rosa escuro ou vermelho, textura média, com drenagem baixa, alta durabilidade, densidade de 765 a 985 kg/m³ (Figura 8).
Usos potenciais
É uma espécie com madeira de alta densidade e durabilidade, indicada para uso em serraria: assoalhos, laminação, vigas, caixas, estruturas, dormentes e postes. Também é usada para ornamentação e produção de celulose em alguns casos (CABI – Forest Compendium, 2008).
Silvicultura
No Brasil, não existem registros de grandes plantações florestais da espécie, sendo utilizada em produções de menor escala. Normalmente os plantios são feitos em pequenas e médias propriedades, para a finalidade de usos múltiplos (TUME, 2015).
Em relação ao crescimento e produtividade, o projeto TUME possui dados da espécie em diferentes regiões do país, e em diversas condições climáticas. No município de Itatinga-SP (latitude 23º06'S; longitude 48º37’O; altitude 845 m), que possui temperatura média anual de 19°C, precipitação média anual de 1300 mm, o E. botryoides aos 70 meses de idade apresentou volume de 97 m³/ha, que corresponde ao Incremento Médio Anual (IMA) de 16,6 m³/ha.ano.
No município de Bragança Paulista-SP (22º57’S; 46º32’O; 817 m), com condições climáticas semelhantes à de Itatinga-SP, a espécie atingiu o volume de 131 m³/ha e um IMA de 24,6 m³/ha.ano aos 64 meses de idade. Em Chapadão do Sul-MS (18º48’S; 52º37’O; 905 m), com uma temperatura média anual de 23°C e precipitação anual de 1600 mm, o E. botryoides aos 48 meses de idade, atingiu volume de 108 m³/ha e IMA de 27 m³/ha.ano.
Os resultados parciais de crescimento e a alta densidade básica da madeira evidenciam o potencial de uso da espécie para usos múltiplos.
Atualmente, as sementes de E. botryoides são provenientes de uma Área de Produção de Sementes (APS) (Moreira, comunicação pessoal), em que, por meio de desbastes seletivos, os indivíduos com características indesejadas são removidos da população. Dessa forma, ocorre a seleção do material genético tanto para o pai, quanto para a mãe (Müller, 2005). Outras técnicas de melhoramento florestal ainda podem ser utilizadas para melhoria da qualidade genética dessas sementes, como por exemplo, a instalação de pomares de sementes por mudas (PSM) e de pomares de sementes clonais (PSC) (Müller, 2005).
A introdução de novas espécies é importante porque proporciona maior diversidade genética para a plantação e, consequentemente, maior segurança ao plantio (Carlini-Garcia et al., 2013).
Suscetibilidade a pragas e doenças
E. botryoides é susceptível as larvas da mariposa Roselia lugens e ao gênero Cardiaspina sp, nativas da Austrália e Nova Zelândia. Na África do Sul é imune ao Gonipterus scutellatus, conhecido popularmente como “Gorgulho do eucalipto”, que é de origem australiana e considerada mundialmente a principal espécie de besouro desfolhador de Eucalyptus. É raramente atacado pelo Lyctus spp, popularmente conhecido como “Broca da madeira” (Boland et al., 2006).
Figuras
Figura 1. Árvore adulta de E. botryoides (Fonte: iSpot Nature).
Figura 3. Casca de E. botryoides aos 11 anos de idade no TUME 0, Itatinga-SP.
Figura 5. Inflorescências de E. botryoides (fonte: LUIRIG).
Figura 7. Frutos de E. botryoides (fonte: Northern Beaches Herbarium).
Figura 2. Locais de ocorrência do E. botryoides na Austrália. No mapa as colorações mais fortes indicam maior densidade populacional (fonte: Atlas of living Australia).
Figura 4. Folhas adultas de E. botryoides (fonte: Australia Plants).
Figura 6. Botões florais de E. botryoides (fonte: Northern Beaches Herbarium).
Figura 8. Corte tangencial de tora de E. botryoides.
Referências
Atlas of living Australia. Eucalyptus botryoides Sm. Acesso em: 25/10/2015. Disponível em: link.
Australian Plants. Eucalyptus botryoides Sm. Acesso em: 25/02/2016. Disponível em: link.
Blakely, W.F. A Key to the Eucalypts: with descriptions of 522 species and 150 varieties. Second Edition. Canberra: Forestry and Timber Bureau, 1955. 383 p.
Boland, D.J.; Brooker, M.H.; Chippendale, G.M.; Hall, N.; Hyland, B.P.M.; Johnston, R.D.; Kleinig, D.A.; McDonald, M.W.; Turner, J.D. Forest trees of Australia. vol 5. p 296-297. 2006.
CABI [Forest Compendium]. Eucalyptus botryoides. 2008. Acesso em: 25/10/2015. Disponível em: link.
Carlini-Garcia, L.A.; Pinto, L.R.; Landell, M.G.A. Importância da manutenção da variabilidade genética para os produtores rurais. Pesquisa & Tecnologia, vol. 10, n. 2, jul-dez 2013.
iSpot – Share Nature. Tony Rebelo – Observations. Bangalay Gum. Acesso em: 11/03/2016. Disponível em: link.
LUIRIG – Schede di botânica. Eucalyptus botryoides Sm. Acesso em: 26/02/2016. Disponível em: link.
Moreira, R.M. Estação Experimental de Ciências Florestais de Itatinga (EECFI/ESALQ/USP).
Northern Beaches Herbarium. Eucalyptus botryoides - Bangalay. Acesso em: 15/03/2016. Disponível em: link.
Penfold, A.R.; Willis, J.L. The Eucalypts: Botany, Cultivation, Chemistry, and Utilization. First Edition. London: World Crops Books, 1961. 552 p.
Silva, P.H.M. Sistemas de propagação de mudas de essências florestais. IPEF – Instituto de Pesquisas Florestais. Acesso em: 04/03/2016. Disponível em: link.
TUME. Teste de Uso Múltiplo do Eucalyptus. Acesso em: 8/12/2015. Disponível em: link.
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Escrito por: Arnaldo Marques Caldeira da Silva (Março/2016)